Após quase um século, estou a partir para novas aventuras.
Puxados pelos cavalos, ajudados pelo ribeiro, como já vos disse, fazemo-nos à estrada. Aí, as cabras carregam-nos e partimos para o desconhecido.
Depois de mais de três horas de cavalgada, subindo a colina com as selas e descendo o vale com os adereços - os pobres cavalos eram apenas espumas - chegamos às margens do Bistrița, na entrada do desfiladeiro.
Esqueci-me de vos dizer que o comandante do posto nos acompanhou durante todo o caminho. Não sei porquê, não queríamos ir a lado nenhum. Mas ele tinha as suas ordens. Não parava de murmurar que estava a sujar a beleza das suas botas.
Aqui, à beira da água, mais a jusante do rebanho Zugreni, todos nós, éramos muitos, algumas centenas, ficávamos todos até ao outono, para nos afastarmos da humidade da floresta que nos alimentava.
Por isso, tínhamos muito tempo para nos sentarmos a contar histórias, a sonhar com o nosso destino e com o que nos ia acontecer.
Alguns já se podiam ver feitos draniță, cobrindo casas de pessoas ou, com um pouco de sorte, até uma igreja sagrada. Ou, porque não, até se podiam ver tábuas, cacifos e vigas a compor uma casa de um caseiro. Houve até uma semente de desavença entre a nossa gente e os que vinham por água de além Cârlibaba, porque não queriam ser draniță mas queriam ser telha. Acabaram por ser acalmados por um homem mais velho que lhes explicou que ou era draniță ou era telha, ainda um demónio, e para os apaziguar disse-lhes que todos se tornariam telha.
Outros também se viram transformados em mesas, cadeiras, armários e camas com colchões de lã e almofadas de plumas sob as quais colocaram o orgulhoso manjericão para sonhar com os seus namorados.
Havia alguns que aspiravam a tornar-se uma tigela de pepinos azedos, só bons para comer depois de um chindie, ou um donut onde, à noite, a dona de casa ordenhava a vaca rodeada de crianças pequenas que esperavam ansiosamente pelo leite quente e doce. E esperavam também encontrar cafés com água fria de nascente para matar a sede no meio-dia de verão, ou caixinhas de mosto agridoce para picar a língua no outono. Um pequeno número dos mais gulosos esperava alcançar as natas cremosas e malcheirosas e a manteiga espessa e gordurosa.
Mais longe, sob a encosta da montanha, perto do riacho Colbu, havia um grupo de pessoas que teriam gostado de encontrar livros que contivessem a sabedoria do mundo ou cadernos para os mais pequenos lerem e escreverem a sua boca.
Outros não eram tão optimistas. Queriam simplesmente fazer ostracismo para fechar os pátios das casas ou para separar o pátio da aldeia.
E, como não há floresta sem floresta seca - refiro-me a nós, árvores, não a vós - alguns de nós acabarão, quer queiramos quer não, como serradura.
De vez em quando, o meu amigo feitor aparecia, acompanhado por um velhote poderoso, de barba e bigode brancos e uma mecha de bigode cinzento que lhe saía debaixo do capacete. Soube mais tarde que o velhote era o Sr. Covaliu, o staroste dos jangadeiros. Batia-nos, virava um de nós com o seu boné e lá iam eles.
Um dia, ainda não era meio-dia, quando o festeiro voltou, desta vez acompanhado por alguns soldados e duas cabras. Deram-nos a volta, deram-nos a volta e escolheram três de nós, mais altos e mais magros. Iam tornar-se mastros no pátio das unidades militares, mastros sobre os quais seria hasteada a bandeira romena.
O que é que o destino me reserva? Gostaria de me tornar um mastro, mas a minha vontade é demasiado forte para isso. Seja como for, o que o bom Deus quiser!
[...] À espera [...]
[...] À espera [...]